sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Horizonte de Expectativa

Hans Robert Jauss (1921-1997) foi um dos grandes estudiosos da Estética da Recepção, uma teoria literária que leva em consideração a obra escrita enquanto produção, recepção e comunicação, que discute a relação direta entre autor, obra e leitor. Em A história da literatura como provocação à teoria literária, de 1994, o autor destaca que a qualidade e a categoria de uma obra literária é resultado dos critérios de recepção, do efeito produzido pela obra e permanência junto à posteridade, e não das condições históricas ou biográficas de sua concepção. Para ele, a relação entre literatura e leitor possui tanto implicações estéticas quanto históricas:

"A implicação estética reside no fato de já a recepção primária de uma obra pelo leitor encerrar uma avaliação de seu valor estético, pela comparação com outras obras já lidas. A implicação histórica manifesta-se na possibilidade de, numa cadeia de recepções, a compreensão dos primeiros leitores ter continuidade e enriquecer-se de geração em geração, decidindo, assim, o próprio significado histórico de uma obra e tornando visível sua qualidade estética" (JAUSS, 1994, p. 23).

Sendo assim, o contexto histórico no qual uma obra aparece não constitui uma sequência factual de acontecimentos existentes independente de um observador. O autor ressalta que a história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe, do escritor, que se faz produtor, e do crítico que sobre eles reflete. Dessa forma, diferentemente do acontecimento político, o literário não possui consequências, que seguem existindo sozinhas e das quais gerações posteriores não poderão escapar:

"Só logra seguir produzindo seu efeito na medida em que sua recepção se estenda pelas gerações futuras ou seja por elas retomada - na medida, pois, em que haja leitores que novamente se apropriem da obra passada, ou autores que desejem imitá-la, sobrepujá-la ou refutá-la. A literatura como acontecimento cumpre-se primordialmente no horizonte de expectativa dos leitores, críticos e autores, seus contemporâneos e pósteros, ao experienciar a obra. Da objetivação ou não desse horizonte de expectativa dependerá, pois, a possibilidade de compreender e apresentar a história da literatura em sua historicidade própria" (JAUSS, 1994, p. 26).

A teoria de Jauss (1994) faz referência à literatura. Mas, de certa maneira, pode servir como referencial teórico para a análise da recepção de outras formas artísticas: arquitetura, cinema, dança, escultura, música e pintura. Afinal, apesar das diferenças, todas elas possuem um eixo comum: às vezes, chamado leitor; em outras, espectador. Todas essas formas de expressão buscam causar um efeito em mim, em você, em nós.

Este espaço tem o objetivo de propor discussões a respeito da cultura pop, por meio de críticas, informações e notícias sobre os meios culturais de expressão artística. Acima de tudo, pretende se tornar um meio de ajudar a você, leitor, a ampliar o horizonte de expectativa. Afinal, a cultura pop engloba aspectos que, muitas vezes, estão além daquilo que se vê. Seja bem-vindo!

Referências: JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994.